segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O coração merece um brinde

O texto a seguir foi publicado na revista Época, número 607, de 4 de janeiro de 2010. Coloco aqui na íntegra e espero não ser processado por isso.

Foi Jack Kerouac (1922-1969), o autor de On the road – Pé na estrada, quem escreveu este conselho de absoluta sobriedade: “Não beba para se embebedar. Beba para aproveitar a vida”. Como Kerouac sabia por experiência própria, beber de forma irresponsável é um perigo. Pesquisas médicas relacionam 36 causas de morte ao consumo de álcool, de doenças hepáticas a desordens mentais. Mas isso só se aplica a quem exagera. A moderação, dizem os estudos, faz muito bem.

No final dos anos 70, a revista médica Lancet, da Inglaterra, comparou as estatísticas de mortes por doença coronariana em 18 países desenvolvidos e procurou suas correlações com a dieta e o consumo de álcool. França, Itália, Suíça e Áustria, com o mais elevado consumo de vinho, apresentaram a menor taxa de mortalidade por doença cardíaca. Em 1991, Walter Willett, que então presidia o departamento de nutrição da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, publicou um artigo no New England Journal of Medicine em que consolidava os principais estudos sobre a relação entre dieta e doenças coronárias. Ele concluiu que o álcool exibe um “poderoso efeito protetor” do coração.




Sem excesso, uma boa garrafa de vinho ou o chope com os amigos podem tornar a vida mais alegre e divertida

Outros estudos consolidaram o que ficaria conhecido como curva em U (como a do quadro abaixo). Ela mostra que o risco de sofrer um ataque do coração é alto em abstêmios, cai quando se bebe moderadamente e volta a aumentar em bebedores cujo consumo é de três ou quatro drinques diários. A razão para isso é que o álcool limpa as artérias, retirando as placas de gordura que podem causar ataques cardíacos. Em excesso, porém, esse benefício se perde. Trata-se de um consolo para quem evita a bebida por temer seus efeitos sobre a saúde.

No Brasil, o hábito de beber vinho às refeições, que até há pouco tempo se limitava aos descendentes de europeus, já se disseminou por todo o país. Em 2009, Fortaleza sediou seu primeiro festival do vinho – prova de que a bebida se adapta até ao calor torrencial do Ceará. Para quem nunca bebeu, os prazeres de boas garrafas de vinho ou mesmo de um chope com os amigos podem tornar a vida mais alegre e divertida. Desde que o passo seguinte não seja dirigir.


Como o álcool nos protege


O risco de ataque cardíaco é menor para quem bebe moderadamente



Um comentário:

  1. sabia que aqueles anos de cantina da serra diários na adolescência serviriam para alguma coisa ...

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