O nosso post ecumênico tá chegando um pouco atrasado esta semana devido ao atraso na entrega dos textos. A gente tarda, mas não falha! Eu poderia esperar até domingo pra publicar o post no nosso dia da heresia, mas achei melhor publicá-lo o quanto antes.
O aborto foi escolhido como tema por causa da importância que este assunto vêm tendo no debate eleitoral. Resolvemos aproveitar esse gancho e, justamente por isso, não poderíamos deixar para publicar só no dia das eleições.
Temos uma nova colaboradora a partir desta edição. A Marcelle, vai nos apresentar a visão evangélica dos temas aqui abordados. O próximo post está programado para ir ao ar dia 7/11. Se você tem alguma sugestão, pode deixar aqui nos comentários ou escrever para sociedadedionisiaca@gmail.com.
Visão Ateísta (Eric)A nossa consciência é comprovadamente uma conseqüência de sinapses cerebrais, um indivíduo morre quando o cérebro morre. Tendo em vista que o cérebro só começa a ser formado após 2 meses de gestação, não faz o menor sentido comparar o aborto até este período com assassinato, já que não há nenhum indivíduo formado e nenhuma consciência ou sensação no embrião. Matar uma galinha é muito mais assassinato do que abortar um embrião. O argumento de que o embrião seria um ser humano em potencial e, por isso, impedi-lo de se formar seria um crime, pode parecer plausível, mas por esta lógica teríamos que condenar também a masturbação e o ato sexual com o uso de qualquer método anticonceptivo, já que estes também impedem “seres humanos em potencial” de se formarem.
A maioria dos países permite o aborto até os 4 meses, período este em que o feto ainda é absolutamente dependente da mãe e incapaz de se desenvolver fora do corpo dela. É evidente que é preferível evitar uma gravidez a ter que abortá-la, mas acidentes acontecem e, sendo assim, forçar alguém a conceder um filho indesejável fatalmente gera mais sofrimento do que o aborto. Os pais sofrem, o filho sofre e diversas outras pessoas podem vir a sofrer quando este filho indesejável se torna um marginal devido à falta de afeto dos pais.
Milhares de mulheres hoje no Brasil têm que se submeter a procedimentos clandestinos para realizarem o aborto, com graves riscos às suas saúdes. Algumas destas mulheres acabam sendo presas por ser o processo ilegal aqui. Por isso questões complexas como esta do aborto devem ser sujeitas a argumentações racionais, com base na lógica e em evidências empíricas. Deixar a vida e a liberdade de seres humanos nas mãos de conceitos místicos como “alma” ou “Deus” é uma atrocidade.
Visão Evangélica (Marcelle)Onde inicia a vida? Para esta resposta existem várias versões, que dependem da especialidade científica que está sendo abordada, da religião e algumas vezes até do interesse pessoal. Como estou aqui representando uma classe e principalmente grupos de pessoas que possuem uma enorme fé em Deus e na bíblia que foi o livro deixado por ele para nortear nossa conduta na Terra, vou responder a esta pergunta segundo os Cristãos Evangélicos acreditam: a vida se inicia na concepção. Com base nisso não fica difícil deduzir que os Cristãos Evangélicos são contra o aborto.
Daí inicia-se a discussão: grupos que são a favor do aborto dizem que é uma questão de saúde pública ou que o Estado não tem o direito de determinar que uma mulher dê a luz a uma criança que não deseja. No primeiro caso, existem ainda duas vertentes: a questão da saúde pública pelos abortos clandestinos e a segunda que acho ainda mais terrível: a social, já que algumas pessoas defendem o aborto como forma de diminuir as populações pobres que eles alegam ser as mazelas do mundo. Para os dois tipos, o mesmo tratamento: prevenção. Para o segundo argumento: não há outra forma de conceber a vida humana se não através do sexo. Este pode ser maravilhoso e trazer enorme prazer, mas não é só para isto que ele serve, com ele vem consequências e se a pessoa tem maturidade suficiente para praticá-lo, deve ter maturidade para assumir as responsabilidades que podem vim com ele. Uma coisa que costumo falar é: filhos são sempre uma benção, mas normalmente vem quando não são desejados. O feto não é um prolongamento da mulher sendo uma nova vida e totalmente independente dela. Claro que ele precisa ser gerado, alimentado, mas é um outro ser, (Deus os conhece a substância ainda informe, Salmo 139:16), ser este que a mãe não tem plenos direitos, mesmo quando ele ainda se encontra dentro dela.
Mas sempre vem aqueles extremistas, que gostam de colocar em xeque as palavras do outro utilizando casos de grande comoção, por exemplo: gravidez após estupro, grandes deformações genéticas, anencéfalos, vida da mãe em perigo e etc. Não estou falando desses casos aqui, embora existam algumas linhas religiosas radicais que ainda não aceitam o aborto mesmo nesses casos, a maior parte das igrejas já aceita e não criminalizam casais que optaram por abortar nestas condições, mesmo tendo consciência que esta sendo retirada uma vida. O que a igreja se coloca terminantemente contrária é a interrupção da gravidez como um método contraceptivo. Para procurar um pouco mais:
www.youtube.com/watch?v=v3TYD3zsY5s.
Visão Dionisíaca (Will)Por um lado, eu penso na liberdade de ingerência sobre o próprio corpo que tanto pregamos aqui. Sei que alguns moralistas não vão gostar de ler isso, mas um amigo escreveu certa vez algo que tive que concordar: um feto nada mais é do que um parasita se alimentando do corpo da mulher para nutrir seu próprio desenvolvimento. Normalmente é um parasita desejado pelo casal, mas temos que admitir que não passa disso, um parasita desejado. Se ele não for desejado, deveria ser tratado como qualquer outro parasita, ou seja, eliminado. "O corpo é meu e eu encubo o que quiser nele." É mais ou menos assim que eu veria o assunto por uma lógica de liberdade sobre o próprio corpo.
Por outro lado, lembro da história do nascimento de Dionísio. Sua mãe morreu enquanto ele ainda estava no ventre dela e Zeus o cozeu em sua própria coxa para que o bebê pudesse completar a "gestação". A vida mostra-se, portanto, sagrada independente do quão incompleto possa estar seu desenvolvimento. Logo, não deveríamos violar esse direito.
Sendo sincero, não consigo chegar a uma conclusão. Fico portanto com a lógica atual: para casos de estupro (que representam uma puta violação da liberdade que a mãe teria sobre o próprio corpo), o aborto seria válido; para casos de mera gravidez não planejada, deve-se arcar com as conseqüências dos próprios atos e preservar o direito que a criança tem à vida.