segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Fruto do Conhecimento: O Pecado Original

Tinha prometido essa sessão com o nome de Ensinamentos Bíblicos, mas resolvi mudar para que eu possa falar de outros ensinamentos antigos em vez de tratar de uma tradição só.

Nada mais justo do que começar essa sessão pela passagem que lhe dá nome, ainda no livro de Gênesis. É também o trecho com o qual eu mais gosto de implicar. Utilizarei alguns versículos do site Bíblia Online.

Lembro que esse texto é uma interpretação minha como tantas outras que são possíveis baseadas em um texto cheio de metáforas como esse. Eu mesmo já vi outras duas sobre esse mesmo trecho que me pareceram igualmente lógicas (e que vou postar aqui em breve). Recomendo que leiam e tirem suas próprias conclusões.

E o SENHOR Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal. (Gênesis 2:9)

Todos sabemos que a bíblia não deve ser tomada de forma literal. Aliás, essa passagem nem dá para ser encarada assim. A árvore não era uma macieira e o fruto não era uma maçã como normalmente são representados.  É gritante que a árvore e seu fruto são metáforas para alguma coisa mais importante do que uma simples maçã. Vejo o fruto em questão como o conhecimento e a capacidade de reflexão. Aquilo que nos permite saber o que é bom e o que é mal por conta própria.

Sem contar que, se não era par ao homem comer dessa árvore, por que criá-la?! Por que colocá-la logo no centro do Jardim do Éden? Por que fazer dela uma árvore agradável aos olhos e não um pé de jaca ou qualquer outro fruto feio, nojento e fedido?! Só para tentar o Adão? Uma espécie de Big Brother Sádico?



Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.
¶ E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.
Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. (Gênesis 3: 5, 6 e 7)

Prestaram atenção? Deus sabe que aquele que tem o conhecimento é como Ele, sabendo o bem e o mal. Aqui fica claro que a bíblia tenta relegar o conhecimento apenas a Deus, ou melhor, àqueles que falam em nome d'Ele. A mulher viu que o conhecimento era bom e desejável para dar entendimento. Ao comer o fruto, seus olhos se abriram. Aquele que tem seus olhos abertos não mais se deixa manipular. Daí a importância das ameaças...

Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (Gênesis 2:17)

Transformar o desejo pelo conhecimento no pecado original e dizer que isso é o responsável pela expulsão do Jardim do Éden (origem de todos os nossos sofrimentos) e pela impossibilidade de viver para sempre é a forma mais eficiente de manter as pessoas longe da árvore e, conseqüentemente, manipuláveis. Uma cerca invisível se assim desejarem. Se ao homem não é permitido conhecer verdadeiramente e só Deus pode saber o que é mal, a "melhor" escolha do homem é obedecer cegamente aos desígnios divinos, transmitidos pelos sacerdotes - por coincidência, entre os mais poderosos nos tempos antigos.

Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. (Gênesis 3:4)

E fica claro que essa história da morte não passa de ameaça pelo que a serpente diz à mulher. Podem argumentar que a serpente mentiu. Talvez, mas quando Deus diz as punições, a mulher sofre com as dores do parto, o homem passa a ter que trabalhar e a serpente perde os membros, tendo que andar sobre o próprio ventre (não coloquei esse trecho aqui, pois fará parte de outra postagem). Parece que Deus esquece a ameaça de morte. Podem dizer que ele faz cumprir a ameaça de morte sem necessariamente falar nela. Se for isso, Ele não teve muita pressa, pois Adão viveu uns 930 anos depois disso.

¶ Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, (Gênesis 3:22)

Essa passagem confirma o que a serpente diz à mulher. Deus não quer que o homem prove o fruto do conhecimento para que continue ignorante. Deus confirma que o homem que conhece é como Deus, sabendo o que fazer de sua vida. E confirma também que o conhecimento não leva à morte, mas a decisão de Deus de afastar o homem da árvore da vida sim. É Deus que decide dar essa punição (se é que ela realmente é dada) e não é uma conseqüência natural de se provar do fruto.

Além disso, dizer que todos somos herdeiros desse pecado é colocar toda a humanidade na posição de ter que compensar um erro que (de fato) não cometeu. De ter que lutar para retornar ao Éden do qual foi expulsa e ser ainda mais subserviente do que aquele que apenas deveria obedecer. Agora é preciso ser o cúmulo da obediência para mostrar que merece retornar ao Jardim.



Pra mim, essa é a lição mais importante da bíblia por estar na sua origem e ser a base estratégica para toda e qualquer manipulação. Quem absorve que deve obedecer a Deus sem perguntar para que não sofra como Adão e Eva está pronto para absorver sem refletir qualquer outro ensinamento bíblico. A moral da história é: pensar é o verdadeiro pecado original e o correto é seguir cegamente as ordens divinas.

Se Deus falar diretamente comigo, eu até aceito, mas seguir as ordens dadas por mensageiros que não podem provar que falaram com Ele são outros quinhentos...

4 comentários:

  1. É interessante ler que alguém que acredita na bíblia também pode interpretá-la como um documento feito por homens, que é o que ela realmente é... A forma como a sociedade era organizada, principalmente considerando a força exercida pela igreja na sociedade, é fator fundamental para entendermos determinadas passagens da bíblia. Gostei da ótica, acima de tudo por tentar ao máximo ser imparcial. Abraços.

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  2. Eu não acredito na bíblia não, cara. Mas concordo com você. Mesmo acreditando no que ela diz, é um documento que passou pela mão dos homens. Nem q tenha sido no tal do concílio em que decidiram quais livros fariam parte da bíblia e quais ficariam de fora.

    E é muito complicado ser imparcial quando se escreve sobre algo tão polêmico quanto a bíblia, mas tenha certeza de que tentei não ser injusto.

    Talvez eu não devesse ter usado a palavra "manipular" tantas vezes, mas a idéia básica é que a passagem legitima que apenas alguns possam falar em nome de Deus e dizer a "verdade", enquanto outros devem seguir isso sem questionar.

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  3. "pensar é o verdadeiro pecado original e o correto é seguir cegamente as ordens divinas"

    muito interessante e coerente com a posição da Igreja desde sempre

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  4. Uma coisa é conjecturar sobre a visão filosófica dos fatos, outra é especular sobre algo muito além das percepções da capacidade humana.
    Definir a Bíblia como um tratado ou documento histórico, e ela o é, mas também é algo muito maior. Então, como explicar a exatidão dos fatos arqueológicos comprovados cientificamente? Como discutir previsões exatas com distâncias de 400, 1000 e 2000 anos? É muito fácil desdenhar na ignorância de fatos relatados por tantas culturas e registrados em tantos documentos cientificamente comprovados por nossa ciência moderna.
    Querem um estudo ou uma demonstração disso? Quem conhece os fatos ocorridos na NASA - EUA, sobre a questão dos supercomputadores não conseguirem calcular com exatidão o posicionamento de astros e apresentarem relatórios de erro definindo a falta de vinte e quatro horas nos dados do tempo? Já que fora da terra o tempo é visto como substância e não como expressão de medida!
    E após a intervenção de pesquisas no texto Bíblico se encontrou os dois momentos em que se somam passagens em que o relógio biológico da terra literalmente deixou de vivenciar as vinte e quatro horas?
    Então, ou sua compreensão está equivocada por um lado, ou os fatos históricos e científicos comprovados pela ciência mais moderna existente em nosso tempo são fraudulentos e tudo o que sustentamos como confiável é uma grande farsa!
    Com qual das duas ficamos?
    Valeu!
    Cleber Aguiar - um Cristão

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