segunda-feira, 15 de março de 2010

O Libertar-se

Dia desses passei uma agradável tarde de quarta filosofando na praia com um amigo que não via há muito tempo. Também falamos emices sobre problemas com mulheres e colocamos o papo em dia, mas o que interessa é o debate sobre religião e sociedade.

Ele não tem uma religião oficial e tem várias idéias diversas sobre religiosidade, então gosta de ouvir a minha opinião. Até porque não é muito comum encontrar alguém que se declare devoto de um deus da Grécia Antiga. Há que se admitir que isso é minimamente interessante.

Mas também sou bem receptivo ao que esse meu amigo diz. E uma dessas coisas me fez parar, pensar e até concordar. Mudou mesmo minha opinião. Não radicalmente, mas mudou. O que ele disse? Ele disse que toda religião no fundo trata do caminho e não do fim. Mais especificamente, falou que o que eu busco não é a liberdade em si, mas a libertação.

Claro que muita gente vai dizer "não, minha religião tem o objetivo de nos aproximar de Deus" ou qualquer coisa assim. Será que alguém realmente consegue isso? Será que o papa acha que já cumpriu essa etapa? Será que alguém consegue ser tão perfeito no Caminho quanto o próprio Buda? Será que a questão toda não é trilharmos o caminho ensinado até que a morte nos impeça de seguir caminhando? A única linha religiosa que eu lembro que prevê um progresso com um fim muito bem definido é a das que falam de reencarnação. Convenientemente, as pessoas que chegam ao limite da evolução, saem do ciclo de reencarnação e não estão aqui pra contar história.

Voltando a Dionísio, acho complicado considerar uma liberdade absoluta e permanente que me coloque definitivamente junto a ele. Por mais que possamos nos libertar de tudo que a sociedade nos impõe, viver em grupo é estar limitado pela presença do outro (ou ignorá-la e ser um filho da puta). Por mais que eu possa fazer tudo o que eu quiser, ainda estaria preso pelas limitações do meu corpo. E libertar-me do próprio corpo seria abrir mão de todas as liberdades e prazeres que ele me oferece. O que buscar então?


Meu amigo me fez crer que buscamos o caminho. Buscamos não a liberdade, mas a libertação. O libertar-se. Não é uma sensação eterna de plena satisfação. É mais como uma bebedeira que te deixa extasiado uma noite inteira e passa na manhã seguinte, te deixando apenas com a lembrança das boas sensações que aquilo lhe proporcionou. Isso faz você querer mais, mas entende que não pode durar para sempre.

Nosso destino reside na própria caminhada.

3 comentários:

  1. "Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia" (Guimarães Rosa)

    a felicidade é a travessia.. não adianta querer projetá-la no passado ou futuro

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  2. O objetivo das religiões cristãs é a aproximação com Deus. A felicidade não é necessariamente um componente da trajetória de vida do indivíduo. A felicidade pode ser sempre aquela que está por vir - "Se Deus quiser, tudo vai melhorar", "um dia Deus fará a justiça." Esse por vir, é exatamente o que mantém a fé do cara de que um dia ele poderá ter a felicidade eterna mesmo dando tudo errado na vida dele.
    Eu acredito que haja uma trajetória, mas que esse caminho seja uma forma de se chegar a algum lugar.

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  3. E eu acredito q esse "algum lugar" ñ passa d uma forma (intencional ou não) d manter as pessoas no caminho. E q na verdade, o "lugar" é o próprio caminho.

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