domingo, 30 de maio de 2010

Fica com deus

Só eu fico incomodado quando falam isso? "Fica com deus", "vai com deus", "deus te abençoe", "deus te proteja", "deus te guie", "deus te crie" e todas as variações possíveis desses votos de bençãos divinas me irritam muito. Tudo isso soa auto-afirmativo demais.

Quer dizer, quem disse que eu quero ficar com esse deus? Na verdade, levando em consideração a maior parte das coisas que sei a respeito dele (idéias como comedimento, castidade, culpa, monogamia, pudor...), eu digo categoricamente que NÃO QUERO FICAR COM ELE. Antes só que mal acompanhado.

Entendo perfeitamente as boas intenções de quem fala isso e fico feliz, de coração. Mas só por causa da intenção, porque a forma de demonstrá-la foi falha, se não ofensiva. É muita presunção considerar que eu tenho que querer ser abençoado justamente por esse seu deus.

Se eu disser pra um evangélico "que Baco te liberte", por melhores que sejam minhas intenções (e tenham certeza de que serão as melhores possíveis), ele certamente ficará incomodado. Se um adorador do demônio falar "vá na companhia do diabo" a uma criança, aposto que virá uma medida cautelar logo em seguida para mantê-lo longe. Se um ateu responder "não, obrigado" quando fizerem a ele qualquer um dos votos citados no começo do artigo, com certeza vão olhar torto pra ele.

Por que então eu tenho que ficar feliz com a idéia de ser abençoado por uma entidade com a qual eu não concordo? E por que desejam sem perguntar ou, pior, sabendo das minhas crenças (que são incompatíveis com o que desejam)?! Todos esses votos não seriam uma forma de naturalizar a adoração a esse deus? De incutir em nossas mentes que ele que é o certo?

E o pior é que eu não faço idéia do que responder, porque sei das boas intenções da pessoa que deseja, mas fico sinceramente incomodado. Devo dizer "não, obrigado", "evoé, Baco" ou apenas agradecer e desejar o mesmo?

11 comentários:

  1. deus possui uma idéia bem mais abrangente do que a que você citou, restritamente ligado às igrejas católica.
    os gregos também tem deuses. quando as pessoas te desejarem isso, pense que ela estão se referindo a baco. assim todos ficam felizes.

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  2. Acho que todas as expressões com "Deus" são meramente saudações à lá "bom dia", de modo que ou é melhor ficar calado ou simplesmente agradecer quando alguém mandar um "vai com Deus". Respostas mais razoáveis do que outras, suponho (pensando também que não haveria motivo para polemizar por causa de um agradecimento).
    Seria no mínimo, sem-noção, responder a uma pessoa aleatória "vai com o Diabo" mesmo que houvesse as melhores das intenções. São questões religiosas muito enraizadas na sociedade e que adentram na língua, então expressões como "vai com Deus" "vai com Baco" ou "vai com o Diabo" não têm a mesma conotação. Difícil alguém ter a consciência até mesmo das palavras que usa...

    Tenho um amigo que usa uma frase bem interessante para se referir a ele mesmo: "ateu, graças a deus."

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  3. Ñ são meramente saudações à lá "bom dia". Quer dizer, claro q pra muitos é assim. Talvez pra maioria até. Mas é o q eu falo no texto. Elas são ao mesmo tempo o sintoma e o veículo da naturalização de um valor de extrema importância. Ñ acho que devamos simplesmente engolir isso. São realmente questões religiosas muito enraizadas na sociedade e meu objetivo (e acho q deveria ser o d todos) é desnaturalizar esses valores.

    Pq seria sem-noção desejar "vai com o diabo" se a intenção for boa e não é sem-noção desejar "vai com deus" mesmo sabendo que sou contra essa entidade? Só pq um é mais comum?

    E toda essa história começou pq um tio meu desejou isso. E ele é extremamente católico, tem perfeita consciência do q significam as palavras e tb sabe q eu sou contra a religião dele.

    BTW, a piada do seu amigo é manjadona já. Escuto desde q tinha 12 anos de várias pessoas.

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  4. As pessoas sempre acham q o é naturalizado é pra ser aceito, fato. Realmente nao dá pra concordar com o q a Kika diz. Tudo bem q o q vc disse de "idéias como comedimento, castidade, culpa, monogamia, pudor..." podem até ser questionáveis, mas eu não conheço tanto de religião à esse ponto pra poder argumentar direito. Mas tb nao considero certo alguem falar 'vai com Deus' sem saber nem se vc acredita nisso. Sei la, eu sou agnóstica, eu nao acredito nem deixo de acreditar, mas nao gosto que falem isso pra mim. Pq como posso agradecer algo q eu nem sei se existe? Concordo sobre falar "vai com o Diabo" e "vai com Baco". Pra alguns pode ser 'sem noção' mas o sem noção é só pq não é algo tão naturalizado, qndo na realidade faz mt sentido falar isso se é o que vc acredita e acha que é bom. Se eu nao deveria levar como ofensa qndo alguem me deseja ir com o deus dela, essa mesma pessoa nao devia se ofender se eu fizer o mesmo. Ouvir 'vai com o diabo' e pensar q é 'vai com deus', assim como falaram para o Will fazer ouvindo "Vai com Deus" e pensar q é Baco.

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  5. Bom eu também me sinto ofendido quando escuto essas coisas. Essa discussão não vai sair daqui. Porque não vamos mobilizar meio mundo para que mudem seus cômodos hábitos.

    Enfim, melhor ignorar os desconhecidos e exigir um pouco de respeito dos que se convive mais.

    acho que falar "Sem deuses, por favor." é mais educado e gentil rs

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  6. Gostei da resposta, Aion. Só q eu ñ sou mais ateu. Agora só sou contra o deus judaico-cristão (e alguns outros). Então dizer "sem deuses" tb ñ é o ideal. Mas recomendo mt pra ateus e agnósticos.

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  7. Não, Nat, não disse em momento algum que ser naturalizado é para ser aceito. Pelo menos não foi dessa forma tão reduzida...
    O que eu disse é que língua não é meramente um idioleto (dialeto de uma pessoa só), embora seja de fato a manifestação de vários. O caso é que a língua é um produto social e, naturalmente, cultural (que abarca também questões religiosas). Não tem como eu, um indivíduo que pensa diferente, querer mudar uma língua e a concepção do que as pessoas têm dela - e isso abrange as expressões e significados. Acho que há um curso da língua e a história está dentro dela. Fico pensando se alguém quiser mudar as concepções de feminino no português - cachorro/cachorra, vadio/vadia, vagabundo/vagabunda - porque, muitas vezes, são pejorativas (fruto de uma sociedade machista). Mudanças desse porte, de uma expressão com "Deus" não vão acontecer na língua só porque eu não gosto. Tem de haver um coletivo sempre.
    Acho totalmente legítimo pensar sobre e não usar tais expressões, e não discordo que o tratamento devia ser o mesmo em falar "vai com Deus" ou "vai com Diabo", mas não dá para ser simplesmente assim só porque eu me sinto incomodada com isso. O significado dessas expressões não são os mesmos (e acho que nunca seriam, para falar a verdade). Ser naturalizado é ter o significado generalizado (o que faz com que o sujeito nem mais pense sobre o significado do que ele usa) e aceito pela maioria. A língua é um produto da maioria, Nat, e pode ter certeza que sempre vai ter o grupo que vai ter de engolir o que é aceitável por terceiros (o que não faz com que o não-aceitável não exista).

    Ah sim, eu realmente acho que "vai com Deus" e afins são expressões cristalizadas e aceitas pela maioria. Estão na boca de ateus (eu tive um professor de Filosofia, aliás, que falava coisas do tipo com a consciência de que são simplesmente palavras jogadas), de quem não é religioso e, principalmente, de quem é cristão.

    E Will, eu acho que seu tio queria te sacanear.

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  8. Eu acho que "graças a Deus" é similar às saudações porque são expressões generalizadas (ninguém fala "bom dia" porque quer saber do dia da pessoa ou diz "vai com Deus" porque quer que ela siga um caminho santificado), entendeu, Will?
    Eu disse que acho válido SIM ver os significados por trás de palavras, mas quando um termo é cristalizado, perde um pouco da significado original (aliás, esse é o significado de dizer que um termo foi cristalizado, ok? tem milhares de palavras na mesma situação). E dizer que um termo é cristalizado não implica em não entendê-lo, tampouco saber a origem dele (sabia que essas estruturas são estudadas também?). Não acho mesmo que "vai com Deus" traga toda a carga religiosa possível, mas é óbvio que há extensão semântica pendendo para esse lado (expressões com "Oxalá" são bem raras hoje em dia e não é por acaso). A maioria (e como você mesmo disse, Will) simplesmente fala isso sem pensar porque não conhece ou nunca refletiu a respeito.
    E não, Will, não é apoiar a inércia agradecer quando alguém falar uma expressão dessas mesmo que incomode. É simplesmente usar de um atifício chamado polidez. Mas você pode experimentar fazer seus discursos anti-religiosos também. Certamente seria a melhor maneira de conscientizar alguém quanto às palavras que ela usa.
    Agora, se se estar num ambiente propício para se falar dessas expressões prontas (coisa que não foi colocada no inínio do post, aliás), aí eu concordo que se deve pensar sobre elas e questionar. Por isso acho uma total perda de energia se incomodar todas as vazes que alguém mandar um "vai com Deus".

    Acho importante ter a consciência do significado das palavras e o valor delas. Mas é simplesmente anti-natural (no curso da língua, claro), querer uma mudança nesse sentido. Totalmente irreal e matafísico.
    Vamos questionar? Vamos. Vamos ter consciência de que a língua é um produto coletivo? Vamos. Vamos questinar com inteligência e não com meros "isso não é justo"? Vamos. Vamos pensar e buscar uma mudança de postura quanto às expressões do nosso vocabulário? Vamos pensar, mas buscar mudança, não.
    E eu fico com a posição de que é importante levar conhecimento sobre as palavras e tudo mais da língua para as pessoas, mas sem dar o meu juízo de valor. Prefiro deixar para cada uma pensar no que fazer com tal conhecimento. Não sou doutrinadora.

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  9. Na realidade, até a utilização dessa palavra talvez tenha sido algo errado, pelo menos se aceitarmos a explicação conhecida. Pode ser algo usual, não natural, duas palavras que muito se diferem. Seria nada além de um "hábito", não "hábitus". Sei que Ateus também usam a expressão "Graças a Deus", mas normalmente, é claro, por brincadeira. Vai dizer que vc não acha graça quando uma pessoa que já se declarou ateu fala um "Graças a deus"? Pelo menos um sorrisinho no canto da boca deve aparecer. Conheço amigos que falam sempre isso exatamente pelo tom jocoso. Não sei se é o caso do seu professor, mas talvez seja. Mesmo se não for, é bom perceber que ao desejar que uma pessoa vá com Deus vc está impondo o seu Deus a ela, então isso não se torna somente uma expressão. O "Graças a deus" ou até o"OMG" pode ser considerado assim. Agora eu nunca vi alguém que não acreditasse em Deus desejasse, sem ser em tom de brincadeira, que alguém "Vá com Deus". Não sei se me fiz entender, mas há diferença entre esse desejo e o exemplo que vc deu do seu professor.

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  10. So basta agradecer..
    porque o "vai com deus" ou "vá com o Diabo", na real... é a mesma coisa, só muda o referencial que no caso seria quem diz...se incomodar com esse tipo de coisa seria como ser um católico fervoroso, ou um pastor da congregação, universal...

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  11. zzZzZzZZzzzzzzZZZZZZZzZzZzZzzzzz

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