segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Conselho Religioso: Aborto

O nosso post ecumênico tá chegando um pouco atrasado esta semana devido ao atraso na entrega dos textos. A gente tarda, mas não falha! Eu poderia esperar até domingo pra publicar o post no nosso dia da heresia, mas achei melhor publicá-lo o quanto antes.

O aborto foi escolhido como tema por causa da importância que este assunto vêm tendo no debate eleitoral. Resolvemos aproveitar esse gancho e, justamente por isso, não poderíamos deixar para publicar só no dia das eleições.

Temos uma nova colaboradora a partir desta edição. A Marcelle, vai nos apresentar a visão evangélica dos temas aqui abordados. O próximo post está programado para ir ao ar dia 7/11. Se você tem alguma sugestão, pode deixar aqui nos comentários ou escrever para sociedadedionisiaca@gmail.com.



Visão Ateísta (Eric)
A nossa consciência é comprovadamente uma conseqüência de sinapses cerebrais, um indivíduo morre quando o cérebro morre. Tendo em vista que o cérebro só começa a ser formado após 2 meses de gestação, não faz o menor sentido comparar o aborto até este período com assassinato, já que não há nenhum indivíduo formado e nenhuma consciência ou sensação no embrião. Matar uma galinha é muito mais assassinato do que abortar um embrião. O argumento de que o embrião seria um ser humano em potencial e, por isso, impedi-lo de se formar seria um crime, pode parecer plausível, mas por esta lógica teríamos que condenar também a masturbação e o ato sexual com o uso de qualquer método anticonceptivo, já que estes também impedem “seres humanos em potencial” de se formarem.

A maioria dos países permite o aborto até os 4 meses, período este em que o feto ainda é absolutamente dependente da mãe e incapaz de se desenvolver fora do corpo dela. É evidente que é preferível evitar uma gravidez a ter que abortá-la, mas acidentes acontecem e, sendo assim, forçar alguém a conceder um filho indesejável fatalmente gera mais sofrimento do que o aborto. Os pais sofrem, o filho sofre e diversas outras pessoas podem vir a sofrer quando este filho indesejável se torna um marginal devido à falta de afeto dos pais.

Milhares de mulheres hoje no Brasil têm que se submeter a procedimentos clandestinos para realizarem o aborto, com graves riscos às suas saúdes. Algumas destas mulheres acabam sendo presas por ser o processo ilegal aqui. Por isso questões complexas como esta do aborto devem ser sujeitas a argumentações racionais, com base na lógica e em evidências empíricas. Deixar a vida e a liberdade de seres humanos nas mãos de conceitos místicos como “alma” ou “Deus” é uma atrocidade.

Visão Evangélica (Marcelle)
Onde inicia a vida? Para esta resposta existem várias versões, que dependem da especialidade científica que está sendo abordada, da religião e algumas vezes até do interesse pessoal. Como estou aqui representando uma classe e principalmente grupos de pessoas que possuem uma enorme fé em Deus e na bíblia que foi o livro deixado por ele para nortear nossa conduta na Terra, vou responder a esta pergunta segundo os Cristãos Evangélicos acreditam: a vida se inicia na concepção. Com base nisso não fica difícil deduzir que os Cristãos Evangélicos são contra o aborto.

Daí inicia-se a discussão: grupos que são a favor do aborto dizem que é uma questão de saúde pública ou que o Estado não tem o direito de determinar que uma mulher dê a luz a uma criança que não deseja. No primeiro caso, existem ainda duas vertentes: a questão da saúde pública pelos abortos clandestinos e a segunda que acho ainda mais terrível: a social, já que algumas pessoas defendem o aborto como forma de diminuir as populações pobres que eles alegam ser as mazelas do mundo. Para os dois tipos, o mesmo tratamento: prevenção. Para o segundo argumento: não há outra forma de conceber a vida humana se não através do sexo. Este pode ser maravilhoso e trazer enorme prazer, mas não é só para isto que ele serve, com ele vem consequências e se a pessoa tem maturidade suficiente para praticá-lo, deve ter maturidade para assumir as responsabilidades que podem vim com ele. Uma coisa que costumo falar é: filhos são sempre uma benção, mas normalmente vem quando não são desejados. O feto não é um prolongamento da mulher sendo uma nova vida e totalmente independente dela. Claro que ele precisa ser gerado, alimentado, mas é um outro ser, (Deus os conhece a substância ainda informe, Salmo 139:16), ser este que a mãe não tem plenos direitos, mesmo quando ele ainda se encontra dentro dela.

Mas sempre vem aqueles extremistas, que gostam de colocar em xeque as palavras do outro utilizando casos de grande comoção, por exemplo: gravidez após estupro, grandes deformações genéticas, anencéfalos, vida da mãe em perigo e etc. Não estou falando desses casos aqui, embora existam algumas linhas religiosas radicais que ainda não aceitam o aborto mesmo nesses casos, a maior parte das igrejas já aceita e não criminalizam casais que optaram por abortar nestas condições, mesmo tendo consciência que esta sendo retirada uma vida. O que a igreja se coloca terminantemente contrária é a interrupção da gravidez como um método contraceptivo. Para procurar um pouco mais: www.youtube.com/watch?v=v3TYD3zsY5s.

Visão Dionisíaca (Will)
Por um lado, eu penso na liberdade de ingerência sobre o próprio corpo que tanto pregamos aqui. Sei que alguns moralistas não vão gostar de ler isso, mas um amigo escreveu certa vez algo que tive que concordar: um feto nada mais é do que um parasita se alimentando do corpo da mulher para nutrir seu próprio desenvolvimento. Normalmente é um parasita desejado pelo casal, mas temos que admitir que não passa disso, um parasita desejado. Se ele não for desejado, deveria ser tratado como qualquer outro parasita, ou seja, eliminado. "O corpo é meu e eu encubo o que quiser nele." É mais ou menos assim que eu veria o assunto por uma lógica de liberdade sobre o próprio corpo.

Por outro lado, lembro da história do nascimento de Dionísio. Sua mãe morreu enquanto ele ainda estava no ventre dela e Zeus o cozeu em sua própria coxa para que o bebê pudesse completar a "gestação". A vida mostra-se, portanto, sagrada independente do quão incompleto possa estar seu desenvolvimento. Logo, não deveríamos violar esse direito.

Sendo sincero, não consigo chegar a uma conclusão. Fico portanto com a lógica atual: para casos de estupro (que representam uma puta violação da liberdade que a mãe teria sobre o próprio corpo), o aborto seria válido; para casos de mera gravidez não planejada, deve-se arcar com as conseqüências dos próprios atos e preservar o direito que a criança tem à vida.

7 comentários:

  1. felizmente em Portugal foi legalizado o aborto , na minha opinião e melhor abortar que abandonar as crianças na rua , nos caixotes de lixo e deixa-las a sorte sozinhas no mundo , em Portugal no ano passado tinha 20.000 crianças para adoptar e só 4.000 casais interessados em adoptar apesar do governo sem muitíssimo lento no processo de adopção .tenho uns amigo há mais de 10 anos há espera de adoptar.

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  2. Ñ revela a identidade do cara, Caio! (É ele sim.)

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  3. Gostei, todos escreveram super bem sobre seus temas, bem exclarecedor. :P

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  4. Eu acho que no final das contas deveria ser legalizado, sim.
    Independentemente da razão. Tudo, no final das contas, se
    resume à pergunta se esse feto é, ou não, desejado.
    Mesmo que seja uma gravidez inesperada, não-intencional, não
    significa que seja indesejada.

    A pergunta fundamental sobre o direito ao aborto é: quando
    podemos considerar um feto um ser humano e
    consequentemente, quando ele passa a ter os direitos
    de um ser humano.

    A visão de que o aborto deveria ser proibido por estar
    evitando o nascimento de um provável ser humano é, na
    minha opinião, no mínimo mal construída. Como o post
    já mostrou, masturbação, sexo utilizando-se de métodos
    anticonceptivos seriam condenáveis também. Mas existem
    outras coisas condenáveis também dependendo do quanto
    radical queira se ir: homosexualismo, entraria na
    lista. Porque não? Até deixar de fazer sexo poderia
    entrar na lista. Portanto o fato de evitar uma vida
    em potencial, sozinho, não é suficiente para condenar
    o aborto.

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  5. A história de Baco ajuda a ver meu ponto inicial de que
    no final, tudo depende se a gravidez é desejada, ou não.
    Se Zeus não tivesse desejado que Baco se desenvolvesse,
    Baco provavelmente teria morrido. Sua mãe não o nutria
    mais, no caso por impossibilidade, mas na minha opinião
    se fosse por falta de vontade daria no memso. Se Baco
    não tivesse a capacidade de se desenvolver em outro
    ambiente teria morrido, de qualquer forma. Foi só poque
    houve vontade de nutrí-lo que ele pôde se desenvolver.
    Eu acho que quem é contra o aborto deveria estar
    disposto a cuidar das crianças que nasceriam. É fácil
    ser contra e depois colocar a responsabilidade de cuidar
    em outra pessoa.

    Não sei se consegui expor minhas idéias com clareza o
    suficiente aqui. Mas o princípio basico que as norteia
    é que cada um tem direito sobre o próprio corpo e um
    embrião/feto não é parte do corpo da mulher e ela tem
    o direito ao aborto. Mas ter direito não significa
    que o aborto deva se tornar banal. E isso depende do
    amadurecimento de quem resolva utilizar esse procedimento.
    Ser irresponsável com relação ao próprio corpo, seja
    com relacionamento à alimentação, exercícios, ou o
    que quer que seja tem seus custos e eles serão cobrados,
    cedo ou tarde. Quanto ao embrião/feto se a mulher não
    tem direitos sobre ele por se tratar de outra vida,
    ele também não tem direitos sobre a mulher, também
    por se tratar de outra vida. Então a mulher tem todo
    o direito de expulsá-lo de seu corpo. Se ele puder
    viver sozinho, tudo bem. Se não puder e tiver alguém
    que queria cuidar dele, tudo bem.
    Senão, bem... não é nada diferente de um aborto.

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  6. Com relação à idéia de que o aborto é condenável porque
    a vida começa na concepção eu tenho que apontar pro fato
    que pílulas ( dia seguinte ou não ) não evitam a concepção,
    apenas a fixação do feto à parede uterina. Portanto, a
    utilização desses métodos anticoncepcionais pode ser
    considerado assassinato, se utilizarmos essa visão.
    E mães que tiverem aborto espontâneo serem indiciadas por
    homicídio culposo.

    A minha visão é de que o aborto poderia ser realizado até
    o momento em que o feto possa ser mantido sem o auxílio
    da mãe. Por que isso? Temos 2 hipóteses: o feto é parte da
    mãe ou não. Se for, o corpo é dela e ninguém tem o direito
    de se meter. Não é? Retirar-se o feto. Não podemos obrigá-la
    a ter algo em seu corpo que ela não deseja. E o feto morre
    de qualquer jeito. Depois disso, discussão encerrada. Se o
    feto pode se manter sem a mãe, retira-se e pronto. Fim de
    discussão.

    Vale fazer uma ressalva neste ponto. Apesar de apoiar o
    aborto, eu não o recomendo a ninguém. Aborto deveria ser
    usado em última alternativa. Nunca como um procedimento
    corriqueiro. Usar o aborto como se fosse um método
    anticoncepcional é um absurdo. Prejudica muito mais que
    auxilia. Eu não sou ingênuo a ponto de crer isso
    não aconteceria caso o aborto fosse liberado. Mas quem
    o utiliza deve saber que o aborto é um procedimento é um
    procedimento arriscado, que pode deixar seqüelas. A mulher pode
    acabar ficando infértil. E deve ter a responsabilidade de arcar
    com as conseqüencias disso, da mesma forma que teve de arcar
    quando resolveu fazer sexo e arriscar ficar grávida.

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