sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Deuses no Mundo Grego

"Se você gostasse de beber ou ir ao teatro, Dionísio seria sua divindade. Embebedar-se, atuar ou assistir a uma peça era adorá-lo. (...) Sexo? Afrodite seria a deusa certa, fosse você homem ou mulher, heterossexual ou homossexual - fazendo amor, você estava venerando-a."

[É assim que começa uma das matérias da revista BBC História (Mundo Grego - dos deuses e mitos às guerras e heróis). A matéria "Assim na terra como no céu" é interessante para vermos como a relação entre humanos e deuses se dava de forma bem diferente da que estamos acostumados. Selecionei algumas passagens interessantes do texto para que possamos cultuar Dionísio de forma mais apropriada.]

Os gregos não eram do tipo que se ajoelhavam, cantavam hinos religiosos ou pregavam um modo de vida casto. Em vez disso, embebedar-se e fazer amor eram algumas das maneiras habituais de venerar suas divindades.

Mitos não devem ser encarados como meras tentativas de se explicar aquilo que não se consegue entender. Eles são, acima de tudo, um retrato do homem e de sua maneira de se relacionar com o mundo. E poucos conseguiram pintar um retrato tão detalhado e profundo quanto os antigos gregos.

Antigas preces nos mostram que era dessa maneira que funcionava a relação entre homens e deuses. O suplicante primeiro identificava o deus (havia uma entidade certa para cada aspecto da vida); a seguir, listava tudo o que um já havia feito para o outro no passado; finalmente, fazia seu pedido e prometia que, se fosse atendido, o deus receberia as mais belas oferendas. Deuses antigos eram abertamente propensos a conceder favores - afinal, acreditava-se que, uma vez que não recebessem mais preces ou sacrifícios, eles morreriam. Não havia razão para sua existência se eles não pudessem exercer seu poder.

Um segundo aspecto atrativo dos deuses antigos é que havia uma infinidade deles, cada um com seus próprios interesses - nenhum especialmente espiritual, moral ou ético. Por exemplo: se você gostasse de beber ou ir ao teatro, Dionísio seria sua divindade. Embebedar-se, atuar ou assistir a uma peça era adorá-lo. Essas eram as áreas de interesse dele e os homens que as favoreciam eram seus seguidores. Sexo? Afrodite seria a deusa certa para você, fosse homem ou mulher, heterossexual ou homossexual - fazendo amor, você estava venerando-a. Artes? Apolo era o deus da música e da dança, e assim por diante. Pode-se até traçar um paralelo com os santos católicos, cada um com sua especialidade particular. Psicologicamente, essa multiplicidade é muito satisfatória. É muito difícil crer que uma única e monolítica divindade poderia estar interessada nas coisas que você faz no bar, na cama ou no concerto musical - e ainda se satisfazer com elas.

Isso leva diretamente ao terceiro, e talvez mais atrativo, aspecto das antigas divindades - a sua humanidade. Eles passavam seus dias como humanos, conversando, bebendo, fazendo amor, discutindo. Acima de tudo, eles podiam fazer precisamente o que bem quisessem, quando quisessem, desde que respeitassem o desejo dominante de Zeus e não pisassem no território de outros deuses.

Tendo em mente o moderno conceito ocidental de religião, tudo isso deve parecer completamente incompreensível. Uma das razões é que os deuses antigos geralmente não impunham ordens morais ou espirituais, sem dogmas ou escrituras sagradas - e nem mesmo "fé", na concepção atual. Os gregos não "acreditavam" em seus deuses antigos assim como, por exemplo, um cristão "acredita" em Jesus. Eles os reconheciam como forças impossíveis de ignorar, como a gravidade. O principal meio de fazer esse reconhecimento era por meio de rituais, dos quais o sacrifício era o mais importante. O animal era abatido, o cheiro de carne queimada espiralava, subindo ao céu, e os homens comiam as melhores partes. Era isso: o deus havia sido venerado e provavelmente concederia suas graças. Simples assim.

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